Coronavírus (COVID-19): tecnologia, saúde pública e economia

Como a tecnologia, representada por inteligência artificial, análise de dados, aplicativos e outros temas, se relaciona com saúde pública no caso do Corona Vírus (Covid-19)? Veja alguns pontos que exemplificam esta associação.

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Nas últimas semanas, o Coronavírus (COVID-19) dominou a atenção da população mundial quanto a preocupações de risco à saúde. Embora não seja o vírus com maior taxa de mortalidade, alguns fatores potencializam esta aflição: é uma variante nova do vírus (o que leva a desconhecimento dos mecanismos de infecção e, portanto, tratamento); teve ocorrência em dezena de países, com casos confirmados em alguns; é uma variante de vírus causadores de doenças respiratórias graves (SARS e MERS).

Além do impacto na saúde, foi possível perceber mudanças sociais e econômicas. Governos e até mesmo empresas como Apple, Microsoft, Danone, Toyota e Mastercard divulgaram os reflexos negativos em seu desempenho. Foram noticiados impactos em transporte, alimentação, tecnologia e investimentos. Estima-se que as perdas são da ordem de trilhões de dólares.

Diante deste cenário, há mobilizações de todo o mundo a fim de encontrar soluções. Desde iniciativas pontuais, até ações coletivas e supranacionais. A começar pela própria China, que construiu hospital em 10 dias – mostrando a capacidade de resposta deste país, embora tenha sido uma medida considerada “equivocada” por alguns.

Quanto às agendas individuais: aulas, eventos e expedientes foram cancelados; lojas e restaurantes foram fechados. No entanto, vários profissionais passaram a trabalhar remotamente, não somente na China, mas também em empresas de diversos países que preferiram tomar esta medida preventiva.

O Brasil, que já havia mostrado recentemente seu grande potencial de resposta com o Zika vírus, apresentou soluções para o Covid-19. Por exemplo, a USP em parceria com Oxford utilizou real-timer RT-PCR para sequenciar o genoma do vírus em apenas dois dias – trabalho feito geralmente em 15 dias – após o primeiro caso confirmado deste vírus na América Latina. Este trabalho, compartilhado entre a comunidade científica no virological.org, é importante para o entendimento dos mecanismos do vírus e para o apontamento de soluções.

De forma complementar, pesquisadores da UFBA elaboraram um protocolo que utiliza RT-PCR para diagnóstico, diminuindo de 48h para apenas 3h. Para isso, foi utilizado um equipamento com alta sensibilidade e que poderá ser utilizado tanto na rede pública quanto privada.

O Ministério da Saúde, por sua vez, lançou o aplicativo Coronavírus – SUS. Como principais funcionalidades, cabe destacar a informação sobre pontos de saúde próximos e conteúdo para entender sobre sintomas, transmissão e prevenção. Esta iniciativa, que discutido em outro artigo do blog, leva à conscientização.

Tendo em vista que estes processos envolvem análise de informações complexas, o volume de dados é um ponto de atenção. Assim, técnicas de tratamento e análise de dados são essenciais. A inteligência artificial (termo genérico para algoritmos de reconhecimento de padrões “automaticamente”) faz parte deste conjunto: aeroportos, hospitais e centros de pesquisa passaram a utilizar ferramentas para auxiliar no diagnóstico. Um software desenvolvido pela startup chinesa Infervision, por exemplo, embora não substitua exames laboratoriais, permite a triagem de pacientes e já está sendo utilizado no hospital Zhongnan (operado pela Universidade de Wuhan, na China).

Outro caso neste contexto foi a empresa BlueDot. A partir de seu sistema de análise de dados, mapeou e compilou notícias de fontes internacionais, redes de pesquisa em saúde, dados de companhias aéreas, comunicados oficiais e fóruns de discussão. Com isso, pode emitir alerta sobre possível disseminação do coronavírus mais de uma semana antes da OMS.

Os vírus têm particularidades e, portanto, cada variante necessita, em geral, de uma vacina específica. Isso aumenta o tempo e o investimento necessários para desenvolvimento – já que, em primeira análise, o processo não é escalável. Assim, a indústria farmacêutica de todo o mundo trabalha para identificar a solução para este caso particular. Alguns destes esforços parecem promissores. A Moderna Therapeutics, empresa americana de biotecnologia, anunciou uma vacina experimental contra o Covid-19 desenvolvida em apenas 42 dias.

Outras apostas estão em startups brasileiras como a Aptah Bioinformática: sua solução utiliza ferramentas de modelagem molecular para agilizar o processo de desenvolvimento de novos medicamentos, reduzindo custos. O Co-fundador e CSO da empresa, o médico Higor Falcão, explicou ao DropCiência que a solução que foi desenvolvida na Aptah otimiza o desenvolvimento de iRNA (RNA de interferência ou interferente), moléculas que podem interferir em mecanismos de expressão gênica do vírus.

Diante dos fatos mencionados, percebe-se que a gravidade do vírus está na esfera de saúde, mas se reflete em aspectos econômicos e sociais. Por outro lado, pesquisa e desenvolvimento de tecnologias são base para iniciativas que trazem resultados positivos direta e indiretamente no processo de identificar soluções. Portanto, cabe ressaltar que o incentivo à pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias – em grandes universidades ou até mesmo em startups – é uma questão essencial para a sociedade.

Afinal de contas, se a ciência se mantivesse sem avanços, poderíamos ter outros casos como a Peste Negra. Entre 1347 e 1351, pelo menos um terço da população do continente europeu foi dizimada; mas, pelos avanços da ciência, foi possível se blindar de novas catástrofes nessa dimensão. Aos que questionam se vale a pena o investimento em pesquisa, este é um bom argumento.

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